Olá pessoal, no intuito de reativar um pouco as atividades do blog estou postando um conto que escrevi de última hora, bateu a inspiração e escrevi! Haha - tá certo que ele é um pouco spoiler, conta uma parte da história de uma personagem que não era para que os outros jogadores - ou pelo menos os personagens deles soubessem hehehe. Mas ficou legal porque também ficou uma espécie de recapitulação.
Por fim peço licença poética ao Felipe, por estar usando sua personagem, Jill Castle. Mas espero que goste hehehehe. Um grande abraço a todos e Viva o RPG!
A
Proposta
O tempo estava pesadamente nublado no Vale do Elsir. Há muito que
uma tempestade como a que se aproximava não caía sobre o campos e
florestas do vale. Da última vez que o tempo esteve assim, foi o
prenúncio da Guerra da Mão Vermelha, quando uma horda de
goblinóides e outras criaturas da cadeia de montanhas do Fogo do
Dragão marcharam pela Estrada da Alvorada destruindo cada cidade em
seu caminho de Drellin Ferry à Brindol, onde foi finalmente contida.
Cada soldado da horda da Mão Vermelha era um fanático adepto ao
culto do Kulkor Zhul, dedicado à Tiamati e liderado pelo temível
Azarr Kul. Além dos números exorbitantes e da crueldade de cada um
dos soldados goblinóides, a Mão Vermelha contava com bestas das
montanhas como gigantes, quimeras, mantícoras e até mesmo um grupo
de dragões cromáticos renegados.
Na torre do antigo forte Vraath, Jill Castle, a maga pertencente ao
grupo de aventureiros que conteve a invasão da Mão Vermelha sobre o
vale, escreve sobre seus últimos estudos sobre encantamentos.
Mirrorscales, um pequeno dragão prateado observa, balançando a
cauda, sua mestra trabalhando da prateleira em cima da escrivaninha.
Já havia passado dois anos desde a Guerra da Mão Vermelha. Quando o
grupo de Jill retornou do Santuário de Tiamati, onde enfrentaram
Azarr Kul, nenhum deles se lembrava exatamente o que aconteceu. A
experiência certamente abalou a todos – tanto que nunca mais se
viram após as comemorações de Brindol. Jill recebeu como
recompensa as ruínas do Forte que reconstruiu com seus próprios
recursos. Quando seguia de Brindol a sua recém-adquirida
propriedade, a maga encontrou entre seus pertences mágicos o um
objeto do tamanho de um ovo de avestruz.
Poucas semanas depois, o ovo se chocou, e Jill, reconhecendo a
criatura – um dragão prateado – como um ser de grande poder,
criou-o e ajudou-o a desenvolver sua habilidades mágicas. Hoje, com
pouco mesmo de dois anos, a criatura já sabe falar tantos idiomas
quanto sua mestra, lança pequenos truques de mágica e é capaz de
se transformar em um garoto com idade entre seis e dez anos quando
está na presença de outras pessoas. Realmente fenomenal.
A tempestade lá fora vai ficando mais forte. Num momento, a
escuridão do lado de fora se torna intensa e um relâmpago corta o
céu. Uma silhueta sombria com enormes asas se posta na janela da
torre de Jill. Mirrorscales, amedrontado salta para trás da
escrivaninha. A maga se levanta rapidamente olhando para a figura
sombria somente para ver faíscas indicando que a magia de proteção,
capaz de manter até mesmo os vidros resistentes como placas de
ferro, fora quebrada. A janela se abre bruscamente com uma forte
lufada de vento que faz os pergaminhos voarem e derrubando frascos de
experimentos mágicos.
– Jill Castle... É um prazer conhecê-la pessoalmente – diz a
figura com uma voz reptiliana. As luzes das velas mágicas, que não
se apagam com o vento, mostram que a figura tem uma forma humanoide.
Suas mãos e pés descalços apresentam textura escamosa avermelhada
e garras compridas. As roupas não passam de trapos e do rosto com o
queixo pontiagudo carrega dois olhos totalmente negros.
– Para você é marquesa!
– grita Jill.
Com um gesto rápido e uma palavra ininteligível, a maga pega um
objeto estranho que magicamente se desintegra e aponta o dedo
indicador na direção da criatura. O rosto reto e escamoso se
contorce de horror como se uma mão forte estivesse espremendo sua
mente. A criatura luta contra a dor mental debatendo a cabeça, que
não possuía um único fio de cabelo e com duas pequena
protuberâncias que parecem pequenos chifres crescendo. Depois de
alguns segundos, ela abaixa a cabeça e faz um ruído como se fosse
um suspiro rápido.
– Tanto poder! Sim ele estava certo. Mas não irá conseguir dominar
minha mente com um truque tão simples.
A criatura dá um passo a frente, entrando no aposento. Jill dá um
passo para trás, olha para o lado e vê o pobre Mirrorscales gemendo
como se estivesse sentido dor. A maga sabe que o bebê dragão reage
deste modo à presenças malignas – dragões prateados são seres
de imensa bondade. Ela se volta para seu visitante inesperado.
– Quem... o que é você?!
– Sou um servo de Wanderlock, o Lorde Supremo dos Dragões. Ele
gostaria de vir aqui pessoalmente, mas como a senhorita deve
imaginar, ele está... incapacitado... por isso me mandou.
Jill olhou mais uma vez para o Mirrorscales. Vasculhou mentalmente
por algum feitiço que fosse efetivo. A criatura parecia poderosa, e
qualquer ação impensada deixaria o pequeno dragão prateado
indefeso.
– Não tenho assuntos a tratar com seu senhor! Saia! - foi o que
disse.
– Claro que não. Mas suas realizações e a de seus amigos, há anos
atrás afetou de certa forma meu mestre – abaixou suas enormes
asas como em sinal de pacificidade.
– Imagino que Wanderlock tenha ficado irritado com o fato de termos
matado o avatar de Tiamati, deusa dos dragões cromáticos – disse
a maga em tom de superioridade.
– Não – respondeu longamente a criatura e após um breve sorriso
continuou – meu lorde tem apenas à agradecer o fato de terem
enfraquecido uma deusa decadente que precisa de goblins e robgoblins
para exercer seu poder. Agora o poderoso Wanderlock pode ascender ao
lugar de Tiamati e se tornar um deus!
– E o que ele quer de mim?
– Sua mão! Seu poder e sua beleza magnífica encantaram meu mestre.
Sou seu mensageiro e trago à senhorita sua proposta de casamento.
O servo abriu suas mãos escamosas com dedos longos e mostrou uma
pequena caixa preta. Com a outra mão, abriu a caixa que continha uma
aliança dourada. “É mágico” pensou Jill após detectar as
essências mágicas que fluíam do anel. O mensageiro colocou a caixa
com a aliança num mesa ao lado e disse por fim:
– Pense por quanto tempo quiser, minha cara. Nós dragões temos todo
o tempo e paciência do mundo. Serás deusa ao lado de meu senhor e
rainha dos dragões. Quando estiver pronta, siga para o norte.
A criatura deu um passo atrás e despencou pela janela. Logo em
seguida sua sombra contrastou novamente com um relâmpago em meio a
tempestade.
Nos dias que se seguiram, Jill estudou o anel. Suas propriedades
mágicas eram magníficas, possuía grande poder, mas sabia que
quando o usava, era como se o Rei Dragão entrasse em sua mente. Por
que lhe dera um anel assim? Talvez ele soubesse que encontraria
dificuldades em sua jornada para dentro do Círculo Draconiano, onde
os dragões foram há eras aprisionados pelos Deuses. Talvez o
próprio Wanderlock colocasse em seu caminho desafios, como uma forma
de provação de sua pretendente.
A maga se lembra de uma tarefa, uma promessa, uma dívida consumada
há muito tempo atrás. Talvez tenha se esquecido dela, talvez a
tenha abandonado. Sete noites após os acontecimentos relatados, a
maga, observava de sua torre uma comitiva de cavaleiros marchando
pela Estrada da Alvorada em direção ao seu forte. Ostentavam o
brasão de Brindol. Dante...
– Quem são eles, mestra? - perguntou Mirrorscales ao seu lado, em sua
forma de garoto, quando estava assim era chamado de Timoty.
– Eles são minha primeira provação. - respondeu Jill após um longo
suspiro.